Weydman Lopes Henriques

Bom vamos lá, comecei a minha transição para a construção da mulher trans aos 11 anos, bem nos anos 80, e pode-se imaginar as inúmeras situações que passei durante o meu processo de construção, seja no seio familiar e na minha vida sexual, pessoal e acadêmica….

Entrei no serviço público municipal em 1993 ou 1994 (como regime especial, acho que era assim que chamavam na época) e logo depois em 1995 fiz o concurso público, tomando posse em 1996 e sou servidora pública há exatamente 28 anos.

Em 2023 fiz 50 anos e passei por um divórcio com  um casamento de duração de 12 anos; com uma graduação em Engenharia Civil, uma especialização em Matemática, um Mestrado em Engenharia de Segurança do Trabalho (realizada na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto/Portugal) e um Doutorado (na mesma Faculdade) ainda por concluir, posso falar com base na minha experiência de vida como mulher trans que: “temos que estar em paz conosco”, independente da jornada que estamos trilhando, seja você uma mulher Cis ou mulher trans. Ninguém pode apontar o dedo para si, pois somente você “sabe a dor e a delícia de ser o que é”.

Com relação as minhas preferências musicais sou bem eclética, vou de Bartô Galeno a Lady Gaga passando por Cher, Bees Gess e ABBA num estalar de dedo, claro, dependendo do momento e do ambiente.

Morando na Europa por um determinado momento da minha vida, conheci alguns lugares com estilos de vida e comidas bem variadas, sou grata por esses momentos e não tenho frescura com comida, como absolutamente TUDO carne, peixe, frango, frutos do mar enfim… tudo mesmo; referente aos lugares a Escandinávia composta pela (Dinamarca, Suécia, Noruega e Finlândia), tem lá os seus encantos, mas cada país tem um lugar no meu coração, pois foram experiências bem vividas, se é que me faço entender, WOW!!!

 

Redação Mundo d’Elas: Como você descreveria a evolução da participação das mulheres na sociedade ao longo das últimas décadas?

Weydman: Passei uns anos da Ditadura no Brasil, e sendo uma mulher trans não foi nada fácil, inclusive neste mesmo período acontecia no Brasil a Operação Tarântula, onde travestis eram presas, só pelo fato de ser o que eram.

Então, quando vejo algumas mulheres trans ou mulheres Cis falando que temos que ganhar menos que homens e temos que ser submissas faço alguns questionamentos internos; mas cada uma é livre para pensar da forma que acha que é certo, quem sou eu para julgar?

Mas as políticas direcionadas para a participação das mulheres em pleno século 21 não são as melhores, entretanto, estamos indo no caminho certo; devemos ter políticas afirmativas SIM, pois fomos sempre inferiorizadas por uma sociedade patriarcal, sendo que nos últimos anos, são as mulheres que levam as familias nas costas, claro que em alguns casos os homens têm sua participação, mas o grande destaque fica com elas: AS MULHERES.

Temos que lembrar grandes mulheres como Millicent Fawcett, com quem começou a história pelo voto feminino, e tantas outras que marcaram território para sermos o que somos hoje. Não posso também esquecer de minha grande amiga Keila Simpson, com quem

pude aprender tudo que sei sobre ADVOCACY nos movimentos sociais e o caminho sempre é o conhecimento pessoal, estudar, estudar e estudar e NUNCA deixe ninguém falar para você que: você não é capaz de ser o que você quer ser, não aceite jamais!!!!!

 

Redação Mundo d’Elas: Quais os avanços mais marcantes, na sua opinião?

Weydman: Vários foram os avanços marcantes, posso citar alguns:

– Voto Feminino;

– Casamento entre pessoas do mesmo sexo;

– Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher;

– Divórcio, pois algumas mulheres não sabem, mas as mulheres não podiam se divorciar;

– Emissão de passaporte para mulheres, sim meninas, antes mulheres não podiam ter passaporte, só viajavam se fossem “autorizadas” pelos maridos;

– Aborto legal;

– Lei Maria da Penha;

– Participação em competições Olímpicas e Futebolísticas;

– Inseminação artificial;

– Pílula do dia seguinte;

– E tantas outras políticas afirmativas  para mulheres.

Redação Mundo d’Elas: Quais são, no seu entender, os principais desafios que as mulheres enfrentam atualmente na busca pela igualdade de gênero?

Weydman: O desafio que eu percebo nos dias atuais, para buscar a “igualdade de gênero”, são as políticas afirmativas. Temos que nos fazer presente em todos os espaços sejam estes: empresas privadas, na mídia, no Judiciário, Legislativo e no Executivo, nas Igrejas, nas Engenharias e áreas Tecnológicas enfim em todos os lugares.

Redação Mundo d’Elas: Como você vê a representatividade das mulheres em posições de liderança e poder?

Pouca. Claro que, fazendo uma comparação com o século passado, demos alguns passos nessa representatividade, mas temos um grande caminho a percorrer. Temos poucas representatividades nos espaços de poderes e as vezes nem isso, posso exemplificar Governadores do sexo feminino? Representantes do alto escalão do Poder Judiciário enfim espaços de lideranças que façam a diferença, onde outra mulher que está numa situação de vulnerabilidade e desamparo social possa olhar e pensar: “se ela chegou neste espaço, eu também posso”.

Redação Mundo d’Elas: Acredita que ainda há um longo caminho a percorrer nesse sentido?

Weydman: Sim, ainda temos um longo caminho. Claro que este caminho passa por dentro do seio familiar, onde as famílias atuais (homen e mulheres, mulheres e mulheres e somente mulheres) possam educar e encaminhar essas novas meninas que estão por participar desta sociedade que tenta abraçar todos (as) de forma e mostrando que hoje em dia o conceito de familia é bem diferente dos anos 80, e ainda bem… Dentro da escola também, políticas afirmativas de acolhimento para aquelas mulheres que se sintam vulneráveis.

Redação Mundo d’Elas: Acha que existe uma conciliação adequada entre vida profissional e pessoal?

Weydman: Essa conciliação depende de cada pessoa, pois o fato de eu conseguir conciliar: esposo, filho(s), casa, trabalho e vida intima não serve de métrica para outra mulher. Mas é necessário sim, senão acabamos saindo do nosso foco.

Redação Mundo d’Elas: Como você vê o papel da educação na promoção da igualdade de gênero?

Weydman: De extrema importância, entretanto existem alguns profissionais que usam os seus poderes para “impor” os seus dogmas no ambiente escolar, e não acho certo. Posso dar como exemplo um profissional da área da educação que é radical nas suas crenças e quer impor isso no ambiente escolar, acho totalmente desnecessário. Como profissionais da educação, estes devem sim, desenvolver projetos para a igualdade de gênero, até porque os pais não vão poder cobrir o Sol com uma peneira, a vida está aí na cara de todos(as). Sou do seguinte pensamento: cada qual no seu quadrado e viva conforme suas conveniências e sua convicções, claro que respeitando as diferenças que existem na atual sociedade, pois não é somente o Brasil que passa por essa promoção da igualdade de gênero, a maioria do Mundo passa por essa transformação.

Redação Mundo d’Elas: Existem medidas específicas que você considera importantes para garantir a igualdade de oportunidades na educação?

Weydman: Sim, essas medidas devem partir num primeiro momento do seio familiar, mostrando que ela é capaz de ser o que ela quiser, não podando as suas habilidades e também passando pela escola para desenvolver aquelas aptidões que ela se identifica bem como todos os processos que essa menina irá passar na sua vida (pessoal e profissional).

Claro que este é meu pensamento e mais uma vez, não sendo métrica para outras pessoas, é simplesmente a forma que eu penso por toda minha experiência que passei, passo e irei passar. Talvez daqui uns anos possa pensar diferente, mas atualmente é isso.

Redação Mundo d’Elas: Como a Weydman definiria a Weydman?

Weydman: Sendo uma mulher trans aos 50 anos, continuo em constante transformação; claro que a Weydman de 20 anos  não é a mesma aos 50 anos,  vários fatos históricos pude presenciar e com isso minha percepção da vida foi se alterando e ainda bem que isso aconteceu. Defino-me como ser humano capaz de adaptar-me a qualquer situação, claro que respeitando os meus limites, pois estou entrando numa fase totalmente nova e assim contemplar este novo momento que a vida estar me proporcionando e seu eu pudesse deixar um conselho seria: VIVAM SUAS VIDAS, INDEPENDENTEMENTE DO QUE AS PESSOAS VÃO FALAR SOBRE VOCÊ, NÃO SE PRENDA A OPINIÕES ALHEIAS, SEJA VOCÊ E TUDO FLUI NATURALMENTE.

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