Por Sandra Monteiro
A novela Terra e Paixão, da Rede Globo, abriu espaço para importante discussão sobre um tema pouco abordado: a assexualidade, orientação sexual de Petra, personagem interpretada pela atriz Debora Ozório. Ao trazer essa temática para o enredo, a trama contribui para a conscientização sobre a diversidade sexual e a necessidade de compreensão e respeito pelas diferentes identidades. Neste artigo, exploraremos o conceito de assexualidade, como identificar uma pessoa assexuada, como a sociedade encara e trata os assexuais, onde buscar orientação e as estatísticas disponíveis sobre pessoas assexuais no Brasil e no mundo.
A assexualidade é uma orientação sexual em que uma pessoa não sente atração sexual por outras pessoas. Ser assexual não significa falta de libido ou disfunção sexual, mas sim a ausência de atração sexual. É importante ressaltar que a assexualidade é uma identidade válida e não deve ser confundida com abstinência sexual ou celibato.
Identificar a assexualidade em uma pessoa pode ser um processo complexo, pois cada indivíduo vivencia sua sexualidade de maneira única. No entanto, existem alguns sinais que podem indicar a assexualidade, como a ausência de interesse ou desejo sexual em relação a outras pessoas; a falta de atração sexual, mesmo em relacionamentos românticos; a priorização de outros aspectos emocionais e afetivos em detrimento do aspecto sexual; e o sentimento de desconexão ou estranhamento em relação às experiências sexuais relatadas por outros.
Vale destacar que a assexualidade é uma identidade pessoal e cada indivíduo tem o direito de se auto definir, independentemente dos critérios mencionados.
Infelizmente, a assexualidade ainda é uma orientação sexual pouco compreendida e aceita na sociedade. Muitas vezes, os assexuais se defrontam com estereótipos negativos e falta de visibilidade. Além disso, há uma pressão social para que todos experimentem a sexualidade da mesma maneira, o que pode levar os assexuais a se sentirem excluídos ou incompreendidos.
É fundamental promover a conscientização e a educação sobre a assexualidade para combater o estigma e os preconceitos. A aceitação e o respeito pela diversidade sexual são essenciais para que os assexuais possam se sentir integrados e valorizados na sociedade.
A assexualidade é uma identidade sexual válida e legítima, e é fundamental que a sociedade compreenda, respeite e acolha os assexuais. A conscientização sobre essa orientação sexual, bem como o combate ao estigma e aos preconceitos associados, são passos para criar uma sociedade mais inclusiva e diversa.
Em janeiro deste ano, o Jornal de Brasília publicou a matéria que transcrevemos abaixo, sobre mitos e verdades sobre a assexualidade:
Segundo dados do Programa de Estudos da Sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (ProSex-IPq), cerca de 7,7% das mulheres brasileiras e 2,5% dos homens, entre 18 e 80 anos, são assexuais.
“Assexualidade é a falta total, parcial ou condicional de atração sexual a qualquer pessoa, independente do sexo biológico ou gênero”, afirma Claudia Petry, pedagoga com especialização em Sexologia Clínica, membro da SBRASH (Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana), especialista em Educação para a Sexualidade pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC/SC) e professora no Instituto de Parapsicologia e Ciências Mentais de Joinville (SC).
Segundo ela, apesar de ser mais comum do que se imagina, a assexualidade não é tão popularizada como a homossexualidade ou bissexualidade, por exemplo. “É compreensível, já que a orientação sexual possui muitas particularidades, além de estar menos presente dentre as discussões sobre sexualidade humana”.
Para tirar as dúvidas, a sexóloga cita 9 mitos e verdades sobre a orientação:
Assexualidade é uma escolha
Mito: Algumas pessoas podem optar por não fazer sexo, mas não escolhem não querer sexo. Não se trata de escolha, mas de orientação sexual.
Assexuais não praticam relações sexuais
Mito: É comum pensar que os assexuais não sentem nenhum desejo sexual ou não fazem sexo. No entanto, mesmo que o sexo não seja essencial, muitos encontram nele uma forma de conexão com parceiros, inclusive para satisfazer o desejo do outro.
Assexualidade pode ser um distúrbio fisiológico
Mito: De acordo com uma pesquisa da Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, os assexuais conseguem ter ereções ou, no caso das mulheres, lubrificação vaginal.
“Eles podem, inclusive, ter relações sexuais e experimentar orgasmos, além de gostar de beijos e carícias”, reforça Claudia Petry. Também não há nenhuma disfunção ou distúrbio hormonal que justifique a falta de interesse sexual.
Assexuais podem ter relações amorosas
Verdade: Além de terem relações amorosas, podem namorar e casar. Relacionamentos não são apenas sobre sexo, mesmo entre casais com necessidades sexuais distintas.
“Os assexuais experimentam a sexualidade de formas diferentes, mas têm as mesmas necessidades emocionais que pessoas com outras orientações sexuais. Neste caso, o casal precisa ter cumplicidade e diálogo para chegar a um acordo do que é aceitável ou não. Muitas vezes, ambos descobrem o prazer sexual de maneiras inusitadas e acabam conciliando suas diferenças”, diz Petry.
Há subtipos da assexualidade
Verdade: Os principais são: assexual estrito (não sente atração sexual em nenhum momento); grayssexual (sente atração apenas em determinadas circunstâncias); frayssexual e demissexual (sente atração quando não há um vínculo afetivo formado); sapiossexual (sente atração pela inteligência do outro); arromântico (pode ter relações sexuais, mas não sente atração romântica por outras pessoas); assexual fluído (oscila entre o demissexual e o grayssexual. Ou seja, os desejos sexuais se alternam), entre outros.
Assexuais não têm filhos
Mito: A escolha de ter filhos ou não independe da orientação sexual, já que os assexuais produzem hormônios e possuem órgãos sexuais e reprodutivos como qualquer pessoa. Portanto, assexuais podem ter filhos, se assim desejarem.
Assexual pode ser chamado de assexuado
Mito: Assexuado é um termo usado para indicar a ausência de órgãos sexuais ou, conforme definições da biologia, a reprodução que acontece sem intervenção de dois sexos. Sendo assim, não há qualquer relação com a assexualidade.
Assexualidade não tem relação com traumas ou abusos
Verdade: Pessoas que passaram por abusos ou experiências sexuais negativas podem continuar sentindo desejo sexual, mas o medo pode bloqueá-las de alguma maneira. “Já a assexualidade não surge a partir de traumas ou porque a pessoa não consegue encontrar um parceiro ideal”, pontua Claudia Petry.
Assexuais sofrem preconceito
Verdade: Assim como os outros LGBTQIA+, os assexuais enfrentam discriminação pela falta de entendimento dessa orientação sexual. Não reconhecer a existência desse grupo pode gerar transtornos depressivos e dificuldade de socialização.
“A assexualidade não se enquadra em qualquer patologia. Portanto, a melhor forma de mudar esse cenário é se informar e desvincular a imagem do assexual a de alguém doente ou fora de uma cultura sexonormativa”, finaliza Claudia Petry.
Como se informar melhor
Pessoas que estão buscando compreender melhor sua própria identidade assexual ou que desejam aprender mais sobre a assexualidade podem encontrar apoio e orientação em diferentes recursos, como:
- Grupos de apoio e comunidades online: Existem diversos fóruns e grupos virtuais dedicados à discussão da assexualidade, nos quais os indivíduos podem compartilhar suas experiências e receber suporte de pessoas que passam por situações semelhantes.
- Profissionais de saúde: Psicólogos, terapeutas sexuais e orientadores podem ajudar indivíduos assexuais a compreender e aceitar sua orientação sexual, além de auxiliar na navegação dos desafios emocionais e sociais relacionados.
- Organizações e ativistas: Há organizações e ativistas que trabalham em prol dos direitos e da visibilidade dos assexuais, fornecendo informações, apoio e recursos.