Meu nome é Solange Amorim do Nascimento, conhecida como “Tia Sol”, tenho 56 anos e sou do signo escorpião. Sou mãe de 3 filhos, sendo dois meninos e uma menina, sou avó de um casal: um já falecido, que é o Aquiles, e a minha bebê “Arco-íris”, que é a Athena, e gosto muito de cozinhar. Gosto de séries coreanas, gosto de escutar rock. Gosto de um bom vinho, mas gosto de cerveja, também.
Gosto de me juntar com os amigos, para a gente sair, bater papo e gosto das coisas simples. Sou bem simples e gosto muito das coisas simples da vida. Gosto muito de sinceridade. Não gosto de pessoas que não conseguem me olhar nos olhos quando falam comigo. Sou uma pessoa que não gosto de mentira, eu prefiro a verdade do que a pessoa mentir para mim. Para mim, mentiu já perdeu toda a minha amizade.
Redação Mundo D’Elas: Você é um exemplo para toda uma leva de admiradores do universo Cosplayer. Como foi que você entrou nesse “mundo” e o que ele te faz sentir?
Tia Sol: Cosplay é a arte de se caracterizar como personagens de Animes (produzida no Japão), séries ou filmes. Tudo começou com a minha filha, que eu levava para os eventos que reúnem pessoas que simpatizam com essa arte, aqui em Manaus. Já naquela época, era eu quem escolhia, roupa, peruca, os acessórios necessários, pagava a costureira. Eu sempre tirava fotos dela, mas não com ela, porque, em razão de um processo de depressão, eu não gostava de mim, nem de me olhar no espelho eu gostava: me achava gorda, feia e me achava horrível em todas as fotos.
Em uma ocasião, uma amiga perguntou se eu teria coragem de fazer um Cosplay, na verdade, ela me desafiou a fazer. Argumentei que teria vergonha, mas ela me incentivou a fazer. Até concordei, mas não tinha o dinheiro para investir em tudo o que precisava para me caracterizar. Ela se comprometeu a arcar com as despesas e eu topei. Escolhi um personagem que achei mais adequado a mim: a Vovó do Piu-piu, do desenho animado “Piu-piu e Frajola”.
Antes de ir para o evento, fiz umas fotos em casa e postei nas redes sociais. Choveram comentários positivos, mas quem sofre com depressão, pensa logo – e valoriza – no lado negativo e quase desisti de ir. Mas fui. Até mesmo na porta do Clube do Trabalhador do Sesi, no Aleixo, onde acontecia o evento, me faltou coragem, mas meus filhos me deram apoio e entrei. Não preciso dizer que foi um sucesso, muitas pessoas querendo tirar fotos com a “Vovó” e me agradecendo por tê-las feito reviver a infância. Fui convidada a subir ao palco para desfilar e me surpreendi ao ser aplaudida de pé pelo público que lotava o lugar. Aquilo me levou às lágrimas. Chorei muito.
Ao voltar para casa, refleti muito se era, de fato, merecedora de tudo aquilo, me questionei, mas parei para pensar que se as pessoas me aceitavam, por que não eu? Entendi que precisava me respeitar mais, me amar mais. Trabalhei isso na minha cabeça e acabei fazendo mais um personagem, a Muriel, do desenho animado norte-americano “Coragem, o cão covarde”.
De lá, para cá, não parei mais. Vi que isso foi tão bom para mim que hoje eu tiro fotos, passei a gostar de sorrir e tirar fotos sorrindo a fazer amizades. E isso me motivou bastante a ajudar a pessoas que sofrem com depressão, a pessoas que não se aceitam pela idade, pelo corpo, em todos os sentidos. Muita gente me confidencia isso e eu as estimulo a mergulhar no que quer, não se importando com a opinião alheia.
Hoje, quanto mais me criticam, mais vontade eu tenho de fazer Cosplay e procuro passar isso para todo mundo. Nas minhas redes sociais eu tenho muitos seguidores, inclusive de outros países. Isso, para mim, é muito gratificante: sair de uma depressão e ser jogada em um universo onde eu consigo me aceitar, isso é maravilhoso, só me fez crescer.
Nota da Redação: A Fanpage da Tia Sol no Facebook (https://www.facebook.com/Tiasolgeek) tem 118 mil seguidores e o perfil no Instagram – @tiasol_cosplayer – quase 11 mil seguidores.
Além de participar dos eventos, Tia Sol também faz trabalhos filantrópicos, levando os personagens que incorpora a hospitais infantis, creches juntamente com os grupos “Heróis da Vida Real” e “Anjos de Natal”.
Redação Mundo D’Elas: Já enfrentou preconceitos? Já ouviu comentários ruins?
Tia Sol: Preconceitos, eu enfrentei muito, mas de pessoas da minha idade. Pessoas que não que não têm coragem de fazer o que eu faço, me atacaram. Pastores de igreja, que achavam o cúmulo, eu ser avó, ser mãe, estar usando esse tipo de fantasias que, segundo eles, “não é coisa de Deus”. Pessoas da minha idade, que deveriam estar me apoiando, não, só criticavam. Por incrível que pareça, de quem eu mais recebi apoio foi das pessoas mais novas. Poucas pessoas da minha idade me incentivaram, mas as mais novas que sempre me elogiaram, sempre sugeriam que eu fizesse um determinado Cosplay, um personagem específico.
Redação Mundo D’Elas: Quais são, no seu entender, os principais desafios que as mulheres enfrentam atualmente na busca pela igualdade de gênero?
Tia Sol: Os principais desafios que as mulheres enfrentam são a desigualdade racial, o assédio no transporte público, a violência sexual e doméstica e a desigualdade no mercado de trabalho. Hoje, principalmente, a violência doméstica. E falo isso com conhecimento de causa porque sofri muito com relacionamento abusivo no qual demorei a dar um basta. Não sei se por covardia, ou por gostar da pessoa e ter a esperança de que ela pudesse mudar. Muitas mulheres se resignam porque são totalmente dependentes, financeiramente falando, de seu agressor. Mas só a própria mulher pode dar um basta nisso.
No mercado de trabalho ainda há muita desigualdade, muitos homens não admitem que a mulher ganhe mais do que eles. As mulheres já provaram que são competentes, que, muitas das vezes, conseguem executar tarefas com mais habilidade dos que os homens. Muitos alegam que como as mulheres menstruam, podem engravidar, ter filhos, precisam cuidar da cada e da família, podem, em algum momento, ter a presença no trabalho prejudicada, o que não é verdade. Temos capacidade de ir muito mais além e ganharmos igual ao que recebe um homem.
Redação Mundo D’Elas: Como você vê a representatividade das mulheres em posições de liderança e poder? Acredita que ainda há um longo caminho a percorrer nesse sentido?
Tia Sol: As mulheres ainda são a minoria nos cargos de liderança, mas estamos conseguindo o nosso espaço. Hoje temos delegadas, advogadas, Juízas, vereadoras, deputadas, senadoras. E isso é um grande avanço. São profissões que eram predominantemente masculinas. Hoje estamos conquistando nosso lugar ao Sol. Acredito que ainda conseguiremos muito mais.
Redação Mundo D’Elas: Como a Solange definiria a Solange?
Tia Sol: E como definir a Solange, né? Hoje eu posso dizer que eu sou maravilhosa, eu sou linda, eu me amo, tenho um sorriso maravilhoso, consigo levar alegria às pessoas como um todo, muitas delas dizem e chegam até mim e falam que eu sou luz no caminho delas. Então, hoje eu sou maravilhosa ao ponto de conseguir fazer tudo isso para as pessoas, de levar a alegria, de fazer com que as pessoas fiquem bem e as pessoas ficando bem e eu conseguindo tirar um sorriso de uma pessoa, nossa, isso não tem preço e para mim, realmente eu represento luz na vida das pessoas…