Por Sandra Monteiro
A pandemia de Covid-19 deixou uma marca indelével em todos os aspectos de nossas vidas, e a saúde mental não foi exceção. Entre os grupos mais afetados, as mulheres enfrentam desafios significativos, enfrentando uma montanha-russa de emoções que persistem mesmo com o fim da pandemia.
O primeiro aspecto a ser considerado é o isolamento social. Durante os períodos mais restritivos de bloqueio, muitas mulheres viram-se isoladas de suas redes de apoio, sejam elas familiares, amigas ou colegas de trabalho. A falta de interação social pode levar a sentimentos de solidão, ansiedade e depressão. Embora as restrições tenham diminuído, o medo residual da Covid-19 ainda mantém muitas mulheres em estado de precaução, limitando seus encontros sociais.
Além disso, a pressão adicional das responsabilidades familiares e do trabalho remoto tem exercido um fardo desproporcional sobre as mulheres. Muitas delas tiveram que conciliar o cuidado com os filhos, a educação em casa e as tarefas domésticas com suas obrigações profissionais. Isso não apenas aumentou os níveis de estresse, mas também gerou sentimentos de sobrecarga e esgotamento.
A incerteza econômica também desempenhou um papel crucial na saúde mental das mulheres. Muitas perdas de seus empregos ou superações de cortes salariais, o que levou a preocupações financeiras constantes. Essa instabilidade econômica tem impactos diretos na autoestima e na sensação de segurança das mulheres, alimentando a ansiedade e o estresse psicológico.
Outro aspecto importante a considerar é o aumento nos casos de violência doméstica. O confinamento imposto em casa, muitas vezes com um parceiro abusivo, criou um ambiente perigoso para muitas mulheres. O medo de sair de casa para procurar ajuda, além da pressão adicional da pandemia, deixou muitas mulheres presas em situações de abuso. Mesmo com a redução das restrições, os efeitos traumáticos dessa experiência persistem, levando a uma necessidade urgente de apoio e recursos.
A saúde reprodutiva também foi impactada significativamente. O acesso a serviços de saúde reprodutiva, como consultas pré-natais e procedimentos de fertilidade, foi interrompido ou limitado em muitas áreas. Isso gerou preocupação adicional para mulheres grávidas e aquelas que estavam tentando conceber. Além disso, o medo da Covid-19 influenciou a decisão de muitas mulheres de adiar a gravidez, levando a uma série de preocupações sobre o envelhecimento dos óvulos e a fertilidade.
A saúde mental das mulheres também foi afetada por questões hormonais associadas à pandemia. As mudanças nos padrões de sono, a interrupção da rotina diária e o aumento nos níveis de estresse submetidos a efeitos diretos no equilíbrio hormonal. Isso pode levar a uma série de sintomas, incluindo mudanças de humor, insônia e fadiga, que continuam a afetar as mulheres mesmo após o fim da pandemia.
É crucial considerar também o impacto psicológico do luto e da perda. Muitas mulheres falecidas entes queridos para a Covid-19 e foram privadas do processo de luto tradicional devido às restrições de reuniões. Isso pode levar a um luto complicado e prolongado, com implicações profundas na saúde mental.
Para lidar com esses desafios, é imperativo que sejam adotadas medidas de apoio contínuo. Isso inclui acesso facilitado a serviços de saúde mental, programas de apoio à violência doméstica e recursos econômicos para mulheres que foram afetadas financeiramente pela pandemia. Além disso, é essencial fornecer educação e informações sobre saúde mental para que as mulheres possam refletir e lidar com os sintomas.
Em suma, os impactos da Covid-19 na saúde mental das mulheres são profundos e duradouros. É crucial que a sociedade e os sistemas de saúde estejam atentos a esses desafios e implementem medidas eficazes para apoiar as mulheres em sua jornada de recuperação e resiliência. A pandemia nos lembra da importância de cuidar da saúde mental de forma holística, e isso deve permanecer como uma prioridade mesmo após o fim da crise sanitária.