Ivana Vitória Ribeiro, 32 anos, signo de peixes, ou seja, extremamente dramática, gosto de uma cervejinha, sou jornalista com diploma, mas atualmente trabalho como advogada, em início de carreira. Por falar em advocacia, gosto bastante da área criminal, há muito preconceito em torno da seara penal, mas se cada um resolvesse buscar conhecimento, essa ideia cairia por terra e todos nós viraríamos defensores ferrenhos dos Direitos Humanos.
Escuto as músicas da minha adolescência e preciso ter mais abertura com novos artistas, mas tudo parece meio chato, repetitivo. Gosto bastante de séries e ir ao cinema, quase toda semana bato ponto para assistir algo e tento, sempre que possível, manter um bom ritmo de leitura dos meus suspenses policiais.
Redação Mundo d’Elas: Você acompanha futebol e, pelo que seus amigos dizem, sabe mais do que muitos homens por aí. Conta como começou essa paixão. Se ela te faz sentir, de alguma forma, diferente da maioria das mulheres.
Ivana: Meados do final dos anos 90, o futebol amazonense estava em um crescimento meteórico com o São Raimundo, um clube tradicional da cidade, e como era da comunidade, meu pai me levava ao estádio da Colina. Acho que tinha entre 4 a 6 anos e ficava olhando aquele estádio, pequeno, acanhado, mas lotado, parecia um caldeirão. A arquibancada balançava com a torcida pulando e eu só olhava aquilo extasiada. Não entendia nada do que acontecia, mas se a maioria comemorava, eu ia na onda. Lembro dos xingamentos, da grande rivalidade com o Paysandu.
Foi ali que minha paixão pelo futebol começou e naquele instante tive meu primeiro time: São Raimundo, o Tufão, tri campeão do Norte, chegou a série B do campeonato brasileiro, e agora… bom, se perdeu em tantas más gestões que há no esporte brasileiro, principalmente no local.
Hoje eu torço para o futebol amazonense em geral, para alcançar o máximo que puder. Para mim é uma alegria tremenda ter dois times na série C, Manaus e Amazonas, e acredito que o último tem chances de subir a série B. Na série D, o Nacional, um dos times mais tradicionais do estado tem feito uma boa campanha, enquanto o Princesa do Solimões está balançando para uma possível classificação a terceira fase, mas o importante é não deixar de acreditar.
Como o futebol amazonense encarou o fundo do poço a partir de 2006, meio que fiquei órfã de time e escolhi o Palmeiras para fazer parte da minha vida e nos últimos anos tem feito muita diferença, e raiva nos rivais. Tento não perder um jogo do alviverde, sempre com meu copo cheio de cerveja do meu time.
Mas eu confesso, não sinto tanta atração por futebol internacional quanto os outros, ainda sou uma adoradora do nosso futebol medíocre. Adoro uma Libertadores e Copa do Brasil. Porém, tenho que tirar o chapéu para competições como Premier League e Champions League.
Não me sinto nem um pouco diferente por gostar de futebol, a gente mora no Brasil, é quase uma imposição você assistir um jogo por semana. Mas entendo as mulheres que odeiam.
Outra competição que amo são as Olimpíadas, em 2022 acompanhei a competição. Sim, ficava acordada de madrugada torcendo para os brasileiros, torcendo para criança cair do skate, para ginasta cair no tablado, tudo isso que brasileiro sabe muito bem fazer.
Apesar da minha fascinação por futebol, nada barra uma Olimpíada. Sempre eu tiro 15 dias da minha vida para viver aquilo como se tivesse algum familiar competindo. São histórias do mundo, trajetórias brilhantes e sofridas, cada medalha conquistada, seja ela a cor, é tão festejada. Até mesmo você atingir sua melhor marca ali, para o mundo assistir é motivo de vitória. Eu poderia passar horas falando de conquistas brasileiras que assisti pela TV e me emocionaram, sobre aquela cerimônia de abertura maravilhosa que o Brasil proporcionou ao mundo em 2016, mas isso pode ser tema para um outro texto. Acreditem e apoiem os atletas brasileiros em todas competições, mesmo que tenham a mínima chance.
Redação Mundo d’Elas: A partir dessa paixão por futebol, como você descreveria a evolução da participação das mulheres na sociedade, de maneira geral, ao longo das últimas décadas?
Ivana: É inegável que houve evoluções, apesar de muito custo. Mas não gosto de romantizar esse progresso, ainda tem muitas coisas a serem conquistadas e não sinto que serão pautas aceitas tão cedo, justamente pelo cenário conservador que vivemos.
Redação Mundo d’Elas: Quais os avanços mais marcantes, na sua opinião?
Ivana: Hoje, finalmente não depender de concordância de nenhum homem da família para realizar a laqueadura.
Redação Mundo d’Elas: Quais são, no seu entender, os principais desafios que as mulheres enfrentam atualmente na busca pela igualdade de gênero?
Ivana: Não tem como não falar em salário. Vivemos numa sociedade extremamente capitalista. É um tema batido e óbvio, mas enquanto não termos o mesmo salário de homens na mesma posição nada de vale a tal valorização. Sem contar as mulheres que são mães, o trabalho é dobrado.
Redação Mundo d’Elas: Como você vê a representatividade das mulheres em posições de liderança e poder?
Ivana: Existe? Elas realmente têm essa posição? Sim, eu sou uma pessimista. Sei que existem mulheres a serem admiradas, mas ainda são poucas as que são efetivamente ouvidas.
Mas para deixar esse pessimismo de lado foi citar três mulheres que admiro nesse aspecto e como elas lidam com essa liderança e poder: Luiza Trajano, da Magazine Luiza, acho muito importante os debates que ela vem travando na economia brasileira para que o Banco Central diminua a abusividade dos juros atuais do país; Bianca Andrade, a Boca Rosa, a mulher criou um império da maquiagem e eu a considero a rainha do marketing, tudo ela aproveita, seja de bom ou ruim; e, para finalizar, obviamente, Leila Pereira, presidente do Palmeiras, não é fácil ela estar nessa posição dentro do futebol e recebe muitas críticas (minhas, inclusive), algumas exageradas e outras com razão (Tia Leila, precisamos de reforços, se movimenta aí!).
Redação Mundo d’Elas: Acredita que ainda há um longo caminho a percorrer nesse sentido?
Ivana: Óbvio. Quando há mulher numa posição de liderança, principalmente, qualquer coisa pode desacreditá-la num piscar de olhos. É necessário a perfeição (algo inalcançável) para as mulheres chegarem em uma posição de poder e permanecer lá sem preconceitos.
Como a Ivana definiria a Ivana?
Ivana: Ainda tentando achar o meu caminho.